quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CARTA PARA A MINHA QUERIDA


Marcos Seiter


Cheguei em casa ontem à noite e não senti o teu cheiro no ar. Como é de praxe, um cheiro estranho num ambiente estranho tem que ser sentido. Mas não foi.

Mergulhei na cama com a roupa que estava quando cheguei: bermuda jeans e uma camisa. Pensei em teu sorriso. Pensei em teus dizeres que tu falava para mim e falei algumas palavras no ar, como se ali tu estivesse ao meu lado, quietinha, só me observando. Uma das palavras foi "Te adoro!" Tão inesquecível ela para mim, que fico aqui, bobinho, lembrando dos últimos momentos que vivemos juntos.

Tu foi a minha companhia direta por 15 dias, Querida. Do dia e da noite. Da manhã e tarde. Dos minutos e segundos. Das horas e horas. Confesso que já sinto falta dos mimos dados por ti para mim. Deixou-me mal acostumado e querendo mais, mais e mais.

Eu acordava todo dia e olhava com os olhos embaralhados de sono para ti. E quando eu fixava os meus nos seus, com tranquilidade, sem o embaralhamento do sono, seus olhos refletiam meu rosto, e seu rosto acompanhado de seu sorriso, refletiam em meus olhos. Fazendo com que eu despertasse para o dia que raiava. Seus olhos não eram estrelas. Seus olhos era o Sol que refletia na beirada da janela do meu quarto, que chegava aos meus olhos como uma energia.

Outra confissão: o seu sorriso era o que ocupava o lugar da janela. Enquanto teus olhos castanhos escuros, era o Sol que refletia em meus olhos folha de árvore. Isso acontecia em cada manhã cinzenta ou clara. Isso acontecia debaixo da escuridão que sumia com o clarear do dia.

Vivemos assim e mais um pouco durante os dias em que tu esteve comigo.

Voltei a ir para os parques, para o cinema, para o teatro. Fiz tanta coisa que não é da minha rotina. Passeamos, jantamos e conversamos fora. Tudo foi natural. Não montei um cronograma. Não sinalei locais que deveríamos ir. Te levei para cima e para baixa na companhia do tempo. O tempo é quem decide o meu tempo.

Querida, estou louco de vontade para que nós sejamos novamente o cotovelo de cada um. O ombro de cada um. O carinho de cada um. O sorriso de cada um. O jeito de cada um. As mãos de cada um. O braço de cada um. A suavidade de cada um. O abraço de cada um. O cabelo de cada um. O prato de cada um. O olhar de cada um. Seja esse olhar torto ou não. Mas que seja de cada um.

Quero que tu sejas novamente a minha rotina, os meus passos. Quero que tu sejas a incomodação da minha ociosidade. Deixe-me ocupado contigo. As minhas mãos não suaram friamente com você ao meu lado nestes dias. O meu coração pouco risonho, sorriu absurdamente com as batidas do teu coração. Quero que teu sorriso esteja mais vezes em cima de meu ombro, ou embaixo de meu pescoço.

Uma frase eu pensei hoje, enquanto me alimentava: o amor pode ser confundível. Mas os meus momentos contigo não foram nem um pouco. E não é verdade?

Beijos, minha Querida.

sábado, 24 de janeiro de 2009



Marcos Seiter

Arquivo Pessoal





Leio Bandeira,
leio Quintana,
leio Neruda,
leio Carpinejar,
leio Drummond.

Leio poemas.

Leio poemas para viver.
Leio poemas para sonhar.
Leio poemas para me inspirar.
Leio poemas para conhecer poesias.

Leio poemas, mas ainda não li
a poesia que em mim está.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

POEMA RECORTADO POR MIM DA ZH - I


Arte de Degas



Além de mim

Nadir Silveira Dias

Faz tanto tempo
e mesmo assim
não esqueço que é
a ti a quem busco

É pela tua falta
que reclamo

É tua ausência
que me consome

É este dia-a-dia
sem maior sentido
sem tua presença
que tudo faz nascer
na minha vida!

Além de mim é
onde me encontro
à procura de ti

sábado, 17 de janeiro de 2009

Arte de Picasso

Marcos Seiter

Meus dedos ajudam-me a escrever o meu mundo.

Enquanto meus olhos veem o outro mundo.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

ENTREVISTA ENTRE POETAS

O meu amigo, poeta, Adriano Nunes, entrevistou o poeta-filósofo, Antonio Cicero.

Confira logo abaixo a entrevista e conheça um pouco sobre Antonio Cicero.

Arte de Portinari


ADRIANO NUNES ENTREVISTA O POETA/FILÓSOFO ANTONIO CICERO


A verdade é que a verdade, pelo menos no sentido convencional da palavra, não interessa ao poema." Que pode interessar a um poema? Que pode ou quer um poema? Com que peso e finalidade um poema invade a alma de tantas pessoas?

Falar sobre Antonio Cicero é sempre instigante e gratificante, é uma verdadeira viagem ao mundo insólito e intrigante das Artes e do Pensamento Humano.

E entrevistar esse poeta/filósofo/letrista/tradutor/homem de rara beleza e encanto/ é uma dádiva.

Antonio Cicero é um dos grandes pensadores da Atualidade. Inicialmente, conhecido por escrever as letras das canções da sua irmã, a cantora Marina Lima, brindou-nos, com composições belíssimas, a partir dos anos 80, cravando de vez o seu nome na História da Música Pop Brasileira. É autor dos livros "O mundo desde o fim" (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995) sobre Filosofia; "Guardar" (Rio de Janeiro: Record, 1996) seu primeiro livro de poemas, vencedor do Prêmio Nestlè de Literatura Brasileira; "A cidade e os livros" (Rio de Janeiro: Record, 2002) livro de poemas apresentado por José Miguel Wisnik; "Finalidades sem fim" (São Paulo: Companhia das Letras, 2005) onde há uma reunião de ensaios sobre Artes, Poesia, Vanguarda, Crítica, fundamental para quem desejar entender tais temas.

Assistir a uma palestra de Cicero é estar diante do que há de bom e lúcido no mundo literário e crítico. Ouvi-lo recitar poemas é como se pudéssemos voltar à Grécia Clássica e ver de perto um espetáculo iluminado de amplidão ímpar. Nesta entrevista, procurei invadir a alma deste homem que nos alerta:

"Não sei bem onde foi que me perdi
Talvez nem tenha me perdido mesmo,
Mas como é estranho pensar que isto aqui
Fosse o meu destino desde o começo."

ADRIANO NUNES: Como se deu seu interesse pela Poesia?
ANTONIO CICERO: Quando garoto, no ginásio, ao ler I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, na antologia escolar. Depois, quando fui com minha família morar nos Estados Unidos, no “high school”, ao ler Shakespeare, os poetas românticos ingleses, Walt Whitman e Emily Dickinson.

ADRIANO NUNES: Em que período da sua vida você sentiu/descobriu que era poeta? Esta descoberta não perturbou o seu "eu" filosófico já que a Filosofia é uma das suas paixões?
ANTONIO CICERO: Por essa época eu comecei a escrever textos que considerava poemas. Mas a poesia não é uma profissão. Ninguém vive de poesia, de modo que, quando eu pensava no que queria ser quando me tornasse quando adulto, jamais me passava pela cabeça ser poeta. Entretanto, eu escrevia esses textos que considerava poemas, de modo que talvez, se pensasse no assunto, me considerasse poeta, mas eu não pensava nesse assunto. Ser poeta era, nesse sentido, uma coisa que fazia parte de mim, como ter cabelos pretos. Mas demorou muito para que eu me definisse como poeta. Na verdade, isso só ocorreu depois que diferentes pessoas começaram a pensar em mim como poeta.Muito cedo li Tolstoi, Dostoievski, Thomas Mann, Machado de Assis etc., de modo que o que eu queria mesmo ser era um romancista, ou melhor, ser um grande romancista, pois era muito ambicioso. Depois, quando comecei a ler filosofia, pensei em ser um filósofo, embora jamais – nem mesmo hoje, nem mesmo depois que algumas outras passaram a me chamar de “filósofo” – ousei me dizer tal. É que basta que uma pessoa escreva poemas – mesmo que não sejam bons – para que, de certo modo, eu ache certo chamá-la de poeta, mas não basta que uma pessoa escreva livros de filosofia ou dê aula de filosofia para que eu a considere um filósofo. Só considero filósofo aquele cujo pensamento conceitual seja capaz de me obrigar a aguçar ou a tornar mais profundo ou mais preciso ou mais sutil o meu próprio pensamento conceitual. Assim, para mim, “filósofo” é um título honorífico, que só pode ser atribuído pelos outros filósofos.

ADRIANO NUNES: Atualmente, a Poesia ou a Filosofia lhe dá mais alegria?
ANTONIO CICERO: A poesia, que é aberta ao princípio do prazer. A filosofia, por outro lado, obedece ao princípio do desempenho.

ADRIANO NUNES: Ter blog, escrever canções, fazer poemas, filosofar... como você utiliza o seu tempo no dia-a-dia para conciliar suas atividades artísticas?
ANTONIO CICERO:
No momento, está muito complicada essa conciliação. Ando muito sem tempo, o que está me angustiando.

ADRIANO NUNES: Quais poetas diretamente e indiretamente influenciaram suas obras?
ANTONIO CICERO: Não é fácil saber o que foi que realmente nos influenciou. Tudo aquilo de que realmente gostei me influenciou. Entre os poetas de que mais gosto estão Homero, Horácio, Baudelaire, Goethe, Hölderlin, Rilke, Yeats, T.S. Eliot, Pessoa, Drummond.

ADRIANO NUNES: Vêem-se claramente em seus poemas temas mitológicos. Você consegue transpor tais temas para o cotidiano e o leitor se identifica com as imagens ali projetadas. Seria influência mesmo dos clássicos gregos ou fascínio pela Mitologia?
ANTONIO CICERO:
O que chamamos de “mitologia” são histórias contadas nas obras dos grandes poetas gregos: Homero, Hesíodo, Píndaro, Sófocles etc. Essas obras, como todas as obras canônicas, fazem parte importante do patrimônio cultural dos poetas – e dos leitores de poesia – modernos. Elas fazem parte do vocabulário da nossa imaginação. Eu as uso mais ou menos como uso as palavras da língua. Elas são minhas, fazem parte do meu ser.

ADRIANO NUNES: Quando se discute Vanguarda no Brasil, o seu nome é frequentemente citado. O seu livro Finalidades Sem Fim trata deste assunto com clareza e requinte. Não há mais Vanguarda? Não é possível mais haver movimentos vanguardistas?
ANTONIO CICERO:
A vanguarda é o que vai à frente, para mostrar o caminho para todos os demais. Só se pode falar do caminho quando se trata de um só caminho para todos. Ora, o único caminho que todos devem seguir é o de compreender que não há um só, que não há um único caminho, que há uma infinidade de caminhos possíveis: que cada um tem o direito de seguir o seu próprio caminho. Querendo ou não querendo, foi esse o caminho que a vanguarda apontou. Depois disso não há mais necessidade de vanguarda. Não é mais necessário mostrar que há uma infinidade de caminhos, porque isso já foi feito; e se, ao contrário, alguém quiser indicar um caminho diferente desse, estará, na verdade, voltando atrás, e não sendo vanguardista. A pretensão de ser vanguardista hoje é, portanto, algo reacionário. É claro que todo tipo de experimentação é e sempre será possível, mas seria errado chamá-la de “vanguarda”.

ADRIANO NUNES: Na apresentação do seu livro de poemas A Cidade e o Livros, José Miguel Wisnik diz:"Um livro espantosamente belo, e ainda capaz - homoeróticas - das mais límpidas declarações de amor que temos visto." Há preconceito na Poesia? Por que "ainda capaz" soa como se não fosse possível?
ANTONIO CICERO:
Não considero preconceituosa a declaração do Wisnik. Eu a parafrasearia do seguinte modo: “um livro que, além de espantosamente belo, é capaz das mais límpidas declarações de amor – por acaso homoeróticas – que temos visto”.

ADRIANO NUNES: Você sempre procura alertar para que todo poema seja bem trabalhado. O que é ser bem trabalhado?
ANTONIO CICERO: Um poema é bem trabalhado quando o poeta não confia apenas na sua primeira intuição e não se contenta rapidamente com a primeira manifestação dele, mas dá chance a que essa primeira manifestação se desenvolva maximamente, empregando ao mais alto grau todas as faculdades de que ele (o poeta) for dotado.

ADRIANO NUNES: Em muitas antologias poéticas contemporâneas, o seu poema Guardar está presente e muitos críticos/poetas/artistas consideram esse poema um dos mais belos da Poesia Brasileira. Como se deu o processo de criação desse poema?
ANTONIO CICERO:
Não sei explicar. Ele parece ter-se desdobrado por conta própria.

ADRIANO NUNES: Você esperava vencer o Prêmio Nestlé de Literatura?
ANTONIO CICERO:
Não esperava, mas é claro que queria ganhá-lo.

ADRIANO NUNES: As letras de suas canções tratam de variados assuntos, mais e intensamente de amor e paixão e ao mesmo tempo de amores em que o amante/amado encontram-se como se afastados do amor e da felicidade, numa luta de egos e de fugas/entregas/medos...como se tivessem que aprender a amar. Por quê?
ANTONIO CICERO
: É outra coisa que não sei explicar. Elas vêm assim.

ADRIANO NUNES: O seu blog Acontecimentos é muito visitado. Como consegue manter atualizadas suas postagens e ainda responder aos comentários dos leitores? É gratificante essa troca de informações pela Internet?
ANTONIO CICERO: Ponho no blog as coisas de que gosto muito. Sempre fui muito organizado nas minhas leituras. Desde estudante universitário, tomo notas, acompanhadas de observações minhas, de quase tudo o que leio. Mas, no blog, não tenho tido tempo de fazer tantos comentários quanto antigamente. De todo modo, quando o faço, não só os leitores me ensinam muitas coisas mas, quando tento lhes explicar o que penso, explico-o também para mim mesmo.

ADRIANO NUNES: Quais poetas em atividade você pode citar como bons, que estão produzindo poemas belos, que estão em busca de Poesia de Qualidade, se é que tal termo possa ser aplicado.
ANTONIO CICERO:
Acho que tal termo pode ser aplicado. Há vários poetas bons em atividade. É sempre ruim citar porque a gente não pode citar todo o mundo e sempre esquece de alguém que não podia ter deixado de citar. Além dos já clássicos Ferreira Gullar, Augusto de Campos e Décio Pignatari, que continuam produzindo, há, por exemplo, em ordem alfabética, Arnaldo Antunes, Eucanaã Ferraz, Nelson Ascher e Paulo Henrique Brito. Dos novíssimos, Omar Salomão é muito bom.

ADRIANO NUNES: O que faz um poema ser considerado belo?
ANTONIO CICERO:
Não há regra geral para isso. Isso não quer dizer que valha tudo. É que são muitos os elementos que entram em jogo na apreciação de um poema. Entretanto, a verdade é que, com o tempo, embora qualquer um, de qualquer origem, possa se manifestar, e embora muitíssimos efetivamente se manifestem, tende a haver consenso em torno de determinadas obras.

ADRIANO NUNES: Os poetas virtuais estão aí publicando poemas em blog/sites, já que há certa dificuldade/custo com editoras para que um livro seja publicado. O que seria preciso para que as Editoras publicassem mais livros de poemas? Nas livrarias, o espaço reservado para a área "POESIA" é sempre menor em comparação com outras áreas. Poesia não dá dinheiro?
ANTONIO CICERO:
Não, poesia não dá dinheiro. Leminski dizia que isso é uma das grandes vantagens da poesia sobre as outras artes, pois significa que ninguém faz poesia por dinheiro. Observo que isso não é de hoje. Sempre foi assim, desde que surgiu a poesia escrita. E antigamente era pior, pois não havia Internet. Além disso, é muito mais barato publicar um livro hoje do que há poucos anos atrás.

ADRIANO NUNES: Quais seus próximos projetos literários?
ANTONIO CICERO:
Um livro de poemas.

ADRIANO NUNES: Que há de "novo" e bom no gigantesco mundo das Artes?
ANTONIO CICERO:
O reconhecimento internacional da importância das artes plásticas brasileiras. O caminho foi aberto pelas exposições de Hélio Oiticica na Europa e nos Estados Unidos. No momento, Cildo Meireles está tendo uma grande exposição na Tate Modern, em Londres.

ADRIANO NUNES: Há algum poeta nesse mundo virtual de blog/sites que você considera como bom e promissor?
ANTONIO CICERO:
Sim: você, por exemplo.

ADRIANO NUNES: Qual o poder e o peso de um poema?
ANTONIO CICERO:
A leitura cuidadosa de um grande poema é capaz de fazer o leitor dizer a si próprio, como Rilke, ao contemplar o torso arcaico de Apolo: “Tens que mudar tua vida."

sábado, 10 de janeiro de 2009

INFORMAÇÕES


Marcos Seiter

Arte de Paul Klee



Meus irmãos estão na praia. Eu e minha mãe estamos em casa. Meu irmão, César, passará quase 20 dias longe de casa. O meu outro irmão, André, volta segunda-feira embora, em função do seu serviço.

Meu cão, Scubby, está em sua casa dormindo. O varal da área está sem roupa. As flores do jardim da minha mãe estão floridas. Não faz frio em Porto Alegre. Os tapetes de casa continuam nos mesmos lugares: no centro. Os dois sofás da sala estão como sempre: cheio de "coisas". As coisas são jornais, bolsas e roupas.

O chão do meu pátio de casa está molhado. As nuvens do céu já choraram um pouco. A terra já bebeu um pouco de água. O céu já anoiteceu.

A estante da sala continua com poeira. A poeira é a sua decoração. Os papéis em cima dela são os documentos pagos. Lembranças de contas. Algumas agendas com números de telefones velhos e novos também se encontram pela estante. Alguns números estão vivos. Outros mortos.

A parede do meu quarto continua desabando. O reboco está úmido. Parece mais queda de rendimento dum time de futebol, que viveu um primeiro semestre excelente e no segundo resolveu se acomodar, dando início a queda.

O meu corpo continua normal. Meus cílios continuam se entregando para as laterais do meu polegar. Eles me incomodam como a fantasia. Torna-se horripilante.

A minha boca acordou amarga e continua amarga. Minha barba continua crescendo.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

SEGUNDA NOITE

Poema recém-nascido.

Marcos Seiter

Arte de Degas



Segunda Noite seguida
Tento te escrever poesia.
Me surgiu como uns versos simples,
como as ondas que batem na Costa do Marfim.

Meus versos foram longe.
Mas eles são para Recife.
Onde a estrela brilha
como arcoíris.

No teu olhar vejo as sete cores.
No teu rosto vejo Capibaribe e suas dores.
No teu rosto vejo o mesmo e seus calores.
Dando vida ao teu movimento com as flores.

Para o outro lado do mundo
meus versos se foram...
Mas logo ali neste Brasil de mundo,
meus versos suspiram, suspiram...

De amores pelo teu tu.

Na Segunda Noite com papel
e caneta de diferentes cor.
Na Segunda Noite com o céu sem lua
e com estrelas nuas,
cheguei até ti...
Com meus versos à toa.

domingo, 4 de janeiro de 2009

A INSATISFAÇÃO DE MEU COLCHÃO COMIGO NÃO É NADA


Arte de Calder


Meu colchão está emburrado comigo.

Deixei-o sozinho por alguns dias.

Ele resolveu soquear minhas costas com todo seu corpo.

Minhas costas estão doloridas.

A dor dele causada pelo vazio do meu corpo deve ter sido maior. Mas não tenho culpa por deixá-lo na companhia de meus livros, da TV que desliga sozinha ao alguém ligá-la, do roupeiro desbeiçado pelo tempo, que ainda guarda as minhas roupas e as de meu irmão (André), do rádio que pega as estações AM e FM. Só que não toca nenhuma fita e muito menos roda algum cd. Quem adivinharia que eu o deixaria sozinho? Sem corpo para acolher?

Passei 18 dias em um colchão diferente. Era de mola. Dum tom branco. Ele vivia coberto dum lençol rosa. Sua companhia durante os dias quentes era um travesseiro branco com bolinhas vermelhas. De vez em quando ia a cachorrinha da minha namorada nele e arrastava o nariz.

Passei noites boas em sua companhia.

O meu colchão estranhou meu corpo. O que não aconteceu com o outro.

Sorte que minha mãe não me estranhou na volta de minhas férias como meu colchão. Tivemos um encontro inusitado em direção a minha casa. Ela me viu vindo com a mala num braço. O outro braço abraçou-a com as palavras suas em meus ouvidos: "E essa barbicha!" Eu devolvi seu carinho com sorrisos.

A estranheza dum material, como o colchão, com o meu corpo, é natural. Estranho seria se eu sentisse frieza do carinho de minha mãe para comigo.

Marcos Seiter

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

MEUS PRIMEIROS


Arte de Monet


Meus primeiros momentos de 2009 começaram ao teu lado.

Era 11:44h da manhã de hoje quando abri meus olhos e vi o teu sorriso troncho no travesseiro.
Eu estava com as mãos na nuca, sem camisa, sem calção e só de cueca. Olhei para a cortina do quarto que estávamos e nele senti o calor do sol que batia no chão do pátio de tua casa.

Cochilei novamente em frente aos teus olhos castanho escuros e acordei 11:56h.

Não levantei da cama e fiquei a te abraçar. Cada abraço era um amasso de segurança. Cada amasso era um modo de sentir o teu calor, que era maior do que o calor que batia no chão do pátio da tua casa. Num momento de te abraçar, resolvi me despreguiçar. Abri os meus braços longamente, com o seu rosto no meu peito, e senti uma dor bem forte nele.

A dor é de ontem (31/12/2008).

Ontem dei as primeiras braçadas na tua piscina em direção a ti. Antes ia caminhando dentro da água para te abraçar de surpresa. Ontem resolvi nadar.

Nadei meio sem jeito, mas consegui chegar até o teu umbigo. Era a minha meta.

Fui no fundo da piscina. Dei impulsos com os meus pés na borda da mesma, e cheguei até ti a nado. Em várias tentativas de chegar ao teu umbigo, engoli água, perdi um pouco da força, ouvia a água entrar em meus ouvidos, mas não fechava meus olhos na água visível pelo azulado da fibra da piscina. O teu biquini verde, com bolinhas brancas também me ajudou a te localizar na água.

Atingi a meta depois de muita teimosia em conseguir nadar. E hoje também foi assim.

Foi assim, depois de almoçarmos na companhia de um arroz com cristais de frutas, com carne de porco de ontem à noite e com o seu olhar, sorriso e o jeito de sempre ser comigo, assim: meiga.


Marcos Seiter